Leia a parte I aqui.
(SUGESTÃO DE ÁUDIO PARA COMPLEMENTAR A LEITURA)
1945: 9 de agosto
A escuridão assentava-se sobre a cidade de Nagasaki, localizada
na ilha de Kyushu. O solo perdia as cores habituais e ia enaltecendo-se ao
negro: o absoluto negro da morte. A crença tomada por muitos de que a alma se
expulsa do corpo quando a vida cessa se dava ali.
Muitos dos corpos não eram mais que um efeito da pólvora; as
sombras atômicas se encontravam espalhadas por vários cantos: almas saindo,
espíritos se desencontrando num ato emergencial. Um cortejo fúnebre no meio de
toda aquela mortandade.
Horrenda e tristonha era a tal imagem
que só quem vivenciava podia perceber.
Os ectoplasmas iam em todas as direções, contorcendo-se e urrando gritos de uma
dor miserabilíssima. Os errantes em estágio inicial já assentados no inferno
comemoravam a melancólica alegria de não terem que passar por todo o espetáculo
que a bomba Fat Man produzia; a
maldição deles era menor e menos duradoura.
Três dias antes
Naquele 6 de agosto uma vida já
estava em processo de geração. Meiying foi carbonizada grávida e nem sabia que
uma história de terror começaria ali.
***
O mundo dos espíritos guarda um
terrível segredo: sob outra forma, todo e qualquer corpo continua a se
desenvolver, não importando as condições em que tenha morrido; e, lá, a morte
não é uma possibilidade.
Meiying e Hiroyuki se entreolhavam
quando se iniciava a manifestação pavorosa de seguimento à vida. O feto malformado
se expelia agora com o sentimento aturdido de Meiying e a indignação do mundo
dos vivos. Aborto provocado pela falta de vida de um corpo amaldiçoado à
condenação eterna.
‘’Toda a desgraça me acometeu! Eu
quero meu filho, isso não é meu filho!’’ Ela não podia aceitar que um pedaço de pele e carne como
aquele era parte dela. Gritava abominavelmente emitindo sons que só os
espíritos emitem; sons potencializados de pessoas sendo assassinadas
brutalmente, sem poder correr ou ver.
1947: 17 de maio-
A família Sakamoto seguia
tradicionalmente cada costume japonês, mas não se detinha à não valorização do
sexo e tinha em seu cerne a inclinação ao desvio de conduta mais sujo e
perverso possível. Os patriarcas criavam cachorros e cavalos, uma atitude
incomum no Japão. Usavam-nos para acoplar a genitália de seus filhos aos
animais, enquanto assistiam e se regozijavam.
A mãe, Katashi, atiçava os animais
masturbando-os e deixando-os lamber os lugares onde escorriam fluidos. O pai,
Hajime, urinava e defecava por todo o espaço de habitação dos animais, isso
quando não sangrava e escrevia imundícies pornográficas na parede.
Na época de cio, os rituais
aconteciam diariamente. Os filhos abominavam todo aquele sofrimento, mas, o que
os pais não sabiam, é que, inconscientemente, seus herdeiros adoravam sucumbir
às suas vontades, por isso não denunciavam e nunca fugiam de nada. Hajime e
Katashi finalizavam com a prática do bukkake, ejaculando e jorrando seus
líquidos na face dos adolescentes.
***
Há céticos que ainda duvidam da
existência de assombrações. No período da invisível disseminação dos
ectoplasmas cada um deles foi direcionado a um lugar. Nagasaki, a mais de
trezentos mil quilômetros de distância de Hiroshima, foi bombardeada mais uma
vez, só que pelos espíritos andarilhos. Tão incauta e improvidente cidade de
Hiroshima, sem culpa nem medo.
Hiroyuki e Meiying se debateram
entrelaçados até sua parada final: a casa da família Sakamoto. Que
apercebimento horrível tiveram quando presenciaram
os rituais sádicos dos patriarcas. Não demorou para que Meiying ficasse muito
perturbada e reagisse.
Os púberes, chorando, olharam para
cima. Primeiro a parte mais importante da família: Meiying sugou o corpo à
parede e engoliu a cabeça de Katashi, aspirando-o, enquanto o sangue irrompia e
fazia a parede parecer hemorrágica. Hajime, o primeiro membro da família com
desordem mental extrema, sofreu um arranque de órgãos externos quando,
violentamente, foi trazido à parede, a um metro de distância de onde o corpo de
Katashi agora despencava.
Esparramados no chão sobre a reação
apavorada dos filhos. Os mesmos filhos que se jogaram contra a parede ensanguentada
em busca de resgatar os pais e acabaram se matando.
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