(SUGESTÃO DE ÁUDIO PARA COMPLEMENTAR A LEITURA)
5:30 p.m.
— Esse aqui é um dos últimos
caixotes, já eu tô indo pra casa!
— Não esquece que amanhã você entra mais cedo, Hiroyuki. Eu não
tenho condições de trabalhar sozinho quando o carregamento chegar.
O Sol estava quase se pondo na
cidade de Hiroshima. Meiying era uma imigrante chinesa que acabara de
conseguir um emprego como secretária numa multinacional e encerrava o
expediente no mesmo horário em que seu namorado, Hiroyuki.
Essa é uma daquelas paixões
avassaladoras (e verdadeiras), que nunca deixam de impressionar pela falta de
pudor no que diz respeito aos limites do sentimento e pelo próprio tempo de
aproximação entre as duas pessoas. Só o ataque de uma esgrima seria capaz de
partir dois corações que não se afastam de nenhuma maneira, como gêmeos
siameses, e a distância nunca é nada.
8:15 p.m.
— Diga-me, meu amor, o que se
pode encontrar de mais puro e tenro dentro de você desde que nos conhecemos?
— Meu amor — Hiroyuki ri,
agraciado —, eu olho para seus olhos e sinto vibrar-me. E essa vibração indica
que você conseguiu alcançar o mais profundo e antes apagado ponto da minha
alma. Era secreto, inalcançável, até esquecido, chame-lhe como for, mas agora é
seu.
— TODO meu?
— Eu sou todo seu. E nós? Ah, nós
somos um só agora.
2:22 a.m.
Longe dali se encontrava o
artefato que não só afastaria seus corações, como também os mutilaria
penumbrosamente. O Enola Gay, que
carregaria alguns tripulantes prontos para soltá-lo em âmbito terrestre em
alguns minutos, estava sofrendo os últimos ajustes.
A noite se arrastava longa e
morria com o passar das horas. O casal se marginalizava do mundo
entorpecendo-se com um filme nostálgico, que lembrava-lhes minúcias do passado
tão quanto os unia ainda mais. Um laço de perfeição estética caso fosse físico
e material; mas imaterial era aquela maneira de ser e de viver.
8:16 a.m.
A plenos vapores o explosivo de
proporções catastróficas foi despejado. Um grito
de guerra foi enunciado pela bomba que agora rumava em direção às vidas
construídas e desconstruídas lá embaixo.
E, não obstante a sede de sangue
em conjunto com a ‘’busca definitiva por paz’’ que exalava, o Little Boy irradiava
contaminação, sufocando os que tivessem a certa distância do epicentro da
explosão.
*
Fazia-se tarde para os que tivessem arrependidos. Vida extinta no perímetro que antes confortava corações e pessoas; as vidas de Hiroyuki e Meiying se foram junto com doze horas e um minuto.
Mas um sentimento verdadeiro nunca se nega, nem nunca acaba.
‘’Não existe argumento mais forte a favor da paz do que a imagem de
Hiroshima devastada. ’’ — Opinião final dos analistas responsáveis por documentar
os efeitos do bombardeio (relatórios da década de 40).
Little Boy: nome
da bomba nuclear lançada em Hiroshima, no dia 6 de agosto de 1945.
2 comentários:
Olá, desde já quero deixar meus parabéns pelo texto, o título por si nos faz pensar o caso que sem sombra de dúvidas é um marco de rastros nada agradáveis; imagina essa loucura em nossos dias...! Me cadastrei nesse site: http://www.e-mai.net/rjs se quiser fazer um teste fique à vontade. Um abraço e obrigado por visitar e deixar um comentário em meu site.
Opa, muito obrigado! Só quis transmitir o que sinto por saber de tudo isso.
Vou ver se conheço mais esse site.
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