Na feira onde eram feitas trocas de produtos por outros produtos estava Beta (-sozinha-humilde-cega-parciamente-e-desligada).
Ela precisava de amor; sabia-o, mas se negava a reparar em qualquer
moço que encontrasse em seu caminho. Pode imaginar, nem sabia o que era o
prazer da carne...
Sua
vida, desde o começo, era em formato de flashbacks. Sua fruta
preferida: maçã. Flashbacks preto e branco de sabor maçã adocicada
vermelha ao ponto de bala para degustação. Rápidos, não? Tamanha doçura
continha-nos. Mas como pode, meu Deus, ter solidão acumulada aos montes
em suas veias e a vida lhe ser doce? Pois era um doce-não-doce.
Ofélia,
sua mãe, cliente mensal da barraca do Seu Nelson, tinha sempre trocas
para fazer na feira. Beta a acompanhava em tudo. A mãe meio que
compartilhava a solidão da filha, pois não lhe fazia papel de mãe-amiga
como toda deveria fazer. Beta de nada se importava, afinal andava viva,
mas dormindo e se rastejando em seu cerne.
Se de
migalhas vivia era escolha sua revolucionar seu momento. Somos nós os
detentores de nossa alegria, mesmo que às vezes dependamos da
colaboração dos outros, mesmo que a felicidade seja feita de momentos e
não ser definitiva.
Morta-Viva ajudava na louça suja,
na sujeira e organização da casa. Teria sim liberdade para sair,
namorar, até porque Ofélia estava cansada de somente vê-la presa, com
altas demonstrações de falta de ânimo. Nem gosto musical a menina tinha,
pois tudo e nada era o mesmo para ela. (Imagina se só falo da
música...)
Havia alguma solução cabível à mãe tomar? Bem, enquanto não se sabia a rotina casa-feira era cumprida. Silenciou-se ao sair, manteve-o ao chegar, inclusive nas gentilezas, como cumprimentar os outros ou agradecer.
Pois
ao olhar um fruto podre em meio a tantos vistosos e suculentos, comprar
os últimos e virar-se – para casa, varrê-la, quem sabe –, dá-se com um
rapaz que tão-pouco planejava o amor para seu presente. Como ela. Como
todos os jovens despretensiosos, por estarem cientes do quanto
amor-próprio é necessário, e do quanto perceber a vida também o é.
Acabou acontecendo.
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