– Olha: veja como o Sol está perto de se pôr! As nuvens
parecem perder a magnitude pelas cores ‘irradiadas’ pelo astro rei. Elas se
transformaram num mero capricho do Sol que adora colorir as coisas. Esse mesmo
que cobre nossa fase diariamente e queima sem pudor. Egoísta.
Agora voltemos às nuvens, conjuntos de partículas de água
muito finas. Repare como elas se movimentam e nos enganam com tanta facilidade:
a maestria da magia: você olha e está lá; você olha de novo e sumiu.
Culpa dos movimentos verticais do ar, que não deixam as pobres nuvens se
estabilizarem, coitadas. Mas mais coitada de mim, que nunca consigo pegar uma
delas parada.
Espera – olhou ao redor. – Ainda tem as flores, os animais e
as pessoas geniosas. Nossa flora resguarda preciosidades – todas as flores são – que necessitam de ajuda externa, João. Algumas têm muita classe, são
sofisticadas; outras são esnobes sem um pingo de humildade. As primeiras até
podem ser humildes, vai... Daqui elas vão para mãos humanas, usadas para
refazer resultados de expectativas, resolvendo agora antigos dissabores. Acho
necessário reconsiderar as flores.
Posso definir algumas estruturas de animais como engenhosas
casinhas meticulosamente construídas. Acho a girafa a melhor delas. O olhar doce
dos animais, quando estão em paz consigo mesmo e o mundo aqui fora não os
perturbam, reflete pura ternura, a qual todos os homens poderiam – querendo
dizer ‘’deveriam’’ – compartilhar. Hum... os beija-flores ajudam as flores a se
reproduzirem, pelo processo abiótico.
– Abiótico? Eu achei... – Anna interrompeu-o.
Guimarães Rosa questionou por que os homens não inspiram
ternura como todo animal. A natureza é engraçada do lado de cá. Do lado de lá é
sofisticada. As pessoas são difíceis e não valorizam a barganha da gentileza
que têm em mãos. Reclamam muito quando deveriam compreender que todos estão no
mesmo barco, na mesma miséria. Dão-se muitos reveses, meu amigo.
– Olha, o
Sol está voltando!
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