segunda-feira, fevereiro 04, 2013

Inconspícuo

BASEADO NA OBRA ARTÍSTICA DE CLAIRE FISHER

(SUGESTÃO DE ÁUDIO PARA COMPLEMENTAR A LEITURA)

, uma mulher no cemitério, sentada numa cadeira de praia e bebendo...
, uma mulher bebendo no cemitério e sentada numa cadeira de praia...
, uma mulher sentada numa cadeira de praia...

Bodas de Esmeralda, de Ouro, de Diamante, quem é que chega até elas hoje em dia? O pão esfarela-se e murcha. O favo não resiste e se destroi sob a condição de vazio, já que mel não é mais depositado nele. A vida de um casal que ainda resiste a uma situação não moderna e corriqueira de vida.

(Marta. Mulher rude e grosseira. Alberto. Homem com fraqueza de personalidade. Casados desde muito novos, nem chegaram à velhice e já conseguiram alcançar o temível. E a bebida, sua companheira e válvula de escape. Patrícia Gonzales. Pintora, fotógrafa, expoente da externação do nobre sentimento da alma, cuspida grosseiramente para a Terra suportar. Prestes agora a completar sua coleção de obras expressivas e autorais, buscou num vilarejo afastado a finalização para seu extenso trabalho.)

 Tá caçando o que por essas bandas? Nem tenta, de mim você não tira nada.

A mulher era irredutível, mas, após alguns minutos de lábia se deixou convencer pelo argumento de Patrícia que explicava o sentido daquilo tudo, sob uma condição. Não era mera coincidência o arraste existencial e vívido que Marta protagonizava.

***

Anunciava-se a exposição ‘’Pés. Terra. Existência. ’’, a qual resguardava um espaço com a pintura de Patrícia Gonzales, ‘’Meu Marido e Eu’’, vista com olhos audaciosos por um ladrão que, ambiciosamente, tornara-se curador da mostra já sabendo do que se tratava o trabalho da artista, porém não imaginava que uma atração súbita e absurda iria se despertar internamente no momento em que a visse.

***

Havia um cemitério bastante desorganizado nos arredores do povoado, e foi lá onde Marta pousou para Patrícia. Alberto não estava presente; não estava nem em casa há dias. A condição era que uma lápide para o marido fosse forjada e saísse na pintura, como se ele tivesse inexistente espiritualmente, já que fisicamente não comparecia.

Hernando organizava e cuidava dos mais ínfimos detalhes dias antes da estreia. Na outra ponta, Patrícia pintava o que viria a ser a atração mais intrigante de toda a exposição, e nem pensava em enviar esta à curadoria.

As obras de arte foram chegando e sendo depositadas no interior do museu. Por conta de um relance, Hernando percebeu uma que se destacava...

O que explica a reação e ação do curador quando a vê é o simbolismo do distúrbio da mente louca e complexa  sua performance fora da mente.

***

Finalmente chega o dia evento. Patrícia Gonzales será homenageada pelo seu próprio trabalho exposto, de forma que, de si para si, não há importância maior, emocionalmente falando.

Mas ela parou atônita em frente àquela inesperada obra. Algo estava errado, o marido não estava presente quando ela pintou o quadro...


Uma mulher  no cemitério, sentada numa cadeira de praia e bebendo... E um homem, ao lado de seu próprio túmulo.

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