Mais uma faixa de trilha sonora. Desta vez o grande é A Primeiro Noite de Um Homem. Você chegou até aqui e vai poder apreciar uma das músicas mais perfeitas que existem na história. Não é muito barulho por nada, acredite.
Use-a para sentir a doçura da escuridão em sua melhor forma: sentir felicidade se emocionando.
Olá escuridão, minha velha amiga
Eu vim para conversar com você novamente
Por causa de uma visão que se aproxima suavemente
Deixou suas sementes enquanto eu estava dormindo
E a visão que foi plantada em minha mente
Ainda permanece
Dentro do som do silêncio
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E engraçado como ela continua boa em diferentes versões.
No centro de São Paulo funciona um dos cassinos ilegais mais
conhecidos da cidade. Emanuel após cumprimentar alguns conterrâneos no bar da
esquina passa a ouvir um longínquo assovio e toques de tambor. Dos
desdobramentos que seu caminho lhe entregava viu uma adolescente muito negra,
trajada de branco, dama de honra, girando lentamente que, de olhos fechados,
entregava o amargo gosto do sentimento de morte lenta. Acelerou o passo
estupefato por aquela visão agora cravada em sua mente. Sem pensar em olhar
para os lados, viu de resvalo chamas de fogo. Sem pensar em parar, virou-se e
viu dois corpos se corroendo em brasa.
Mais à frente – e de costumeiro, pensou: ‘’mais um desses,
caçando onde dormir’’ – mas aquele era diferente. O espírito zombeteiro do
mendigo se manifestava como criança perturbada, prostituta de meia-idade e
personificava o Bode-preto como afobado por... ele não sabia explicar o quê.
Verdade seja dita que não conseguia fugir da visão que deduzia ser o inferno na
terra.
Ficava cada vez mais difícil entender o que estava
acontecendo ali. Ao longe, o Edifício Joelma. De sobressalto, a voz de um
adulto gritando. Era uma mulher enunciando seu suicídio de forma desesperadora.
Em sua rua encontrava-se o silêncio aterrador. Quando abriu a
porta, de perfil, viu uma sombra negra e cabeluda. A comprovação do seu medo
veio quando chamou seu gato para vir de encontro a ele – nessa hora ouviu uma
voz medonha proferindo frases blasfêmicas em velocidade anormal, porém
compreensível; quando adentrou a porta pôde sentir a amargura de vir seu gato
com as entranhas todas de fora, sendo devorado por mais uma representação do coisa
ruim. O horror cobriu a alma de Emanuel como se um balde de sangue fosse jogado
nele.
Correu feito andarilho sem rumo. Francisca, sua vizinha
praticante da feitiçaria, ouviu o eco de Emanuel sendo arrastado para as
profundezas do inferno. O feitiço para desembocar o solitário mas feliz homem
tinha dado certo.